terça-feira, 28 de outubro de 2008

... como se disto houvesse vida,
como se disto houvesse esperança,
como se disto resultasse mais que desespero,
apatia, raiva ou depressão

e tudo isto não fosse mais
que espinhos no caminho,
como se isto não fosse
todos os frutos que conseguimos colher

e para lá destes muros ameaçadores
existisse realmente uma luz
a aguardar ser contemplada,
como se isto não fosse mais que uma ilusão

e na verdade tudo acabaria bem
e não haveria desperdício de sofrimento, de luta
e isto apenas um teste no qual triunfaríamos
pela resistência, persistência, desejo

como se isto pudesse ser verdade...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

uma figura cuja silhueta se recorta
contra um fundo de céu,
imóvel, contemplativa, no extremo
de uma falésia.

no céu o ocaso coroado de nuvens,
a seus pés a memória
de um mundo que foi
e agora desaba.

... silencioso estertor...

sábado, 18 de outubro de 2008

o martelo regista uma cadência
insistente,
aço contra o metal frio,
esmagando-o de encontro ao
aço
por debaixo.

aquele tinido agudo,
ofensivo para os ouvidos,
entidade mor de outros sons
que confluem
ao seu
redor.

um murmúrio de máquinas
sustenta a textura sobre a qual
a vida vai sendo definida
e roubada.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

não restam mais que pálidos espectros
nos caminhos que outrora trilhávamos,
não restam mais que memórias abandonadas,
destinos deixados em aberto
com promessas de um futuro regresso.

o mar reclama de novo o seu território
enviando sucessivas campanhas à reconquista da costa.
sinto-o em mim e ele estende-me o convite
de navegar seguindo as coordenadas do desejo,
instrumentos orientados para o sonho.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

quem somos nós nas sombras,
quando na hora do desespero
o toque soa
e a esperança vacila na sua
convicção,

e nos dividimos entre chacais e hienas
tão rapidamente esquecendo
a réstea de razão que nos ancorava
ao cais,

e vagueamos na raiva,
olhos injectados de ódio,
matilhas insaciáveis no rasto
do sangue

e, reorientando a navegação,
nos vemos na expectativa de colidir
com os nossos mais profundos
receios,

enquanto um pequeno punhado de nós
apenas desejava olhar as montanhas
ou rumar em direcção
ao deserto?