sábado, 18 de abril de 2009

as palavras fizeram-se anunciar
na melancolia do fim
de dia
quando as últimas reminiscências
do sol
recortavam a fogo o contorno
das nuvens
e a vermelhidão do céu não conseguiu
contrapor o peso à sombria ameaça
que pairava
sobre o mar

redesenharam-se no horizonte os trajectos
que o corpo não percorre e o desejo
tece
alheio à crueza da realidade que aguarda
cada novo despertar

os vultos assumiram a sua forma
na noite que se desdobra
na sempre perdida batalha travada
contra o cansaço
acercaram-se
anunciaram-se
enunciaram os seus nomes
ao longo do trajecto
como marcos miliários numa qualquer
via de derrota
relataram o seu percurso e invocaram
a memória
do seu nascimento e nomearam
o esquecimento a que
foram votados
como a guitarra que aguarda
nas cercanias da secretária
muda
intocada
como um corpo que arde no desejo
não
consumado
como o livro que aguarda
enterrado
sob uma pilha de objectos
não
remexidos
e as fotografias que aguardam
um novo olhar que as resgate
ao seu destino
aleatoriamente
arquivado

os vultos falaram
sobre a tragédia para lá dos dias
na frieza do fim
e na agonia
do violento despertar para a morte
no culminar
de uma vida
vazia
lamentaram a inexactidão
do traço
deixado
sobre o solo
da estática errância
e de como
o verbo por si só
nada cria...

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